quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Absurdos - II

Aconteceu. 
Foi um daqueles momentos em que o acaso supera o planejamento, e nada que você faça, fale ou pense vai mudar o que já está feito. E quando te perguntarem daqui a 15 anos sobre essa noite, a sua resposta ainda vai ser "aconteceu".

E não adiantou se arrumar toda, se vestir toda bonita e ficar horas planejando a maquiagem. Ninguém reparou nos seus sapatos bonitos também, e as músicas que você queria ouvir não tocaram. Entretanto, a esperança ainda estava lá. 

Então não serviu de nada toda expectativa, todo preparo, toda espera: ele não estava ali. A festa era inútil, o momento estava perdido e tudo teve fim. Mais uma vez, aconteceu o desespero, o choro no banheiro e o silenciamento da paixão que demorou uma semana pra amadurecer na coragem. Aconteceu a decepção, o vazio, o medo de ser a única dançando sozinha pela eternidade. 

Mas você não ode evitar, pode? Não existem meios pra se fugir do destino, existem? E todas as perguntas sobre o sentido da sua vida voltam, não voltam? Mas você ainda está ali, de pé. E enquanto estiver de pé, ainda existe esperança. Enquanto estiver de pé, ainda vai se comportar com uma boba preocupada com roupas, sapatos e maquiagens perfeitas que não agradam a ninguém, nem a você própria. Enquanto estiver de pé, ainda vai se preocupar com as músicas que só você reconhece, com os filmes que só falam das suas tristezas e com as histórias que só falam de amor... Talvez seja melhor sentar. 

Eu nem queria estar naquele lugar, mas tinha gente que dizia que eu queria, e talvez eu acreditasse neles. Tinha gente que me dizia pra procurar um tratamento, e eu talvez não quisesse acreditar neles. Tinha gente que queria me abraçar, mas eu não queria qualquer abraço, queria um só que nunca vinha. Tinha gente que sentia saudade de mim, mas qual era o propósito de sentir falta? Eu nunca saberia dizer, e a resposta pra tudo de inconsequente que eu fazia na vida era sempre a mesma: "Aconteceu!". 

Um comentário:

  1. Muito bom!

    Há toda uma despretensão na construção da prosa e uma habilidade natural para a narrativa fluir de um jeito cativante, que nos pegamos ao final apegadas às linhas, como se elas fossem nossas.

    Gostei especialmente deste parágrafo [...]"Talvez seja melhor sentar."

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