domingo, 8 de janeiro de 2012

A festa

E você me mostrou as marcas no seu corpo
cada pequena cicatriz representava uma noite acordado
e eu esperava que fosse exatamente assim
você só não sabia que isso era parte de uma ficção
plena em insônia e morta em cores: pra você era sempre o preto.

E aquela outra menina me mostrou as meias rasgadas nas coxas
e todos nós sabíamos que seria assim
e com todo tom vulgar, ela teve alguém pra amar
mesmo que por uma noite
pra ela, aquela noite foi vermelha.

Teve aquele casal também, que não se descuidava um minuto
todo olhar era carinhoso, todo toque era planejado
e todo sorriso era amavelmente retribuído
eles tinham o que metade daquela festa queria
e pra eles a noite foi em tons de azul-quase-verde.

Teve a menina que não sabia que estava numa festa
que ficou no canto chorando e maldizendo a vida dos outros
com uma pose patética, um olhar perdido
criando assunto pras intrigas...
pra ela, só restou o cinza chumbo.

Teve todo o tipo de gente, se mexendo, dançando
mas esses só completavam a cena
não eram protagonistas, nem antagonistas e nem coadjuvantes
eram figurantes... mas isso é porque sou eu quem escrevo e dou cor
esse ficaram de lilás.

E teve a escritora, observando tudo e roubando da vida os personagens pras suas linhas tortas
essa estava disfarçada, também dançou, bebeu, se mexeu e até chorou um pouquinho
escritor adora roubar as cores dos outros
e como de costume, quando chegou em casa tão colorida assim,
abriu um bloco de notas e começou a despejar tudo que viu, até voltar pro seu branco.

3 comentários:

  1. Que máximo...
    E que venham muitas cores para despejarmos palavras maravilhosas como as que escorreram aqui.
    Parabéns!

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  2. Que ladra, essa escritora rs mas é essa a graça, cores roubadas pra enfeitar o branco como ela bem entender...

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  3. Adorei esse texto, Mariana, que bem ilustra o modo operante dos que criam "verdades"...

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