tag:blogger.com,1999:blog-7543101644792220062023-11-16T03:09:58.336-03:00Pra fora, pro mundoPra ser inteiro, às vezes a gente só precisa parar de se ver pela metade.Mrs. Brightsidehttp://www.blogger.com/profile/15746788147802013527noreply@blogger.comBlogger28125tag:blogger.com,1999:blog-754310164479222006.post-51833433569013044202015-04-23T19:25:00.001-03:002015-04-24T01:59:38.529-03:00O escuro do dia<div style="text-align: justify;">
Uma tragédia normalmente tem três partes. A primeira parte geralmente apresenta os personagens e seus sofrimentos, segue-se então para o momento de conflito e, por último, o fim terrível que representa o ápice do sofrimento.</div>
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Era isso que eu dizia aos meus alunos, era a minha tese afinal. </div>
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<br /></div>
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Até o dia em que a minha tragédia pessoal me foi apresentada em seis longas partes. Seis longos pares de pernas: Alice, Luana, Katherine, Paola, Michelle e Elisa. </div>
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<br /></div>
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Eu tentei teorizar a minha tragédia, sempre tento, é isso que eu faço de melhor... mas era impossível, justamente porque a primeira parte da minha tragédia era a primeira parte cronológica da minha narrativa, mas ela não era nem começo nem fim. Alice apenas era o meu momento de conflito. Ela me fazia hesitar entre a vontade de tocar, sentir com a ponta dos meus dedos a textura daqueles dois centímetros de pele entre a gola da camiseta polo e o começo do cabelo curto.</div>
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<br /></div>
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Mas sabia que não podia. E pela primeira vez na minha vida, saber os limites éticos da minha posição não tornavam as minhas escolhas mais fáceis. Alice era o conflito, e ela passava por mim todo dia com a serenidade de quem não fazia a menor ideia do furacão que se formava em mim toda vez que a sua presença era notada pelos meus sentidos. </div>
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<br /></div>
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Eu vou tentar não cometer o mesmo crime de todo primata com bolas e culpar a fêmea pelo desejo que se instalara em mim: Alice não tinha um ar provocativo, não passava por mim como quem quisesse que eu iniciasse qualquer coisa, não me lançava olhares e, na única vez em que me dirigiu a palavra, do lado de fora da cantina da Universidade, ela o fez da forma mais casual possível. </div>
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<br /></div>
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"Professor Lemos, você esqueceu sua pasta no balcão."</div>
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<br /></div>
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E quando me entregou minha pasta, não roçou a mão na minha, não esbarrou no meu corpo de forma lasciva... apenas me devolveu minha pasta e contornou a pilastra do prédio antigo pra encontrar com as amigas que a esperavam para descer a escada. </div>
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<br /></div>
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Nada disso impedia meu corpo de responder a cada pequena oscilação da sua respiração, e nada disso impedia que quando eu fechasse os olhos no meu estúdio toda noite, ouvindo os barulhos do gato brincando em alguma parte distante da cozinha no outro lado, eu desejasse que fosse a sua mão me infligindo cada um dos golpes que eu infligia a mim mesmo. Nada disso impedia que depois, durante o banho, eu desejasse não ter imaginado Alice. Nada impedia que eu deixasse a vodka apagar apenas o suficiente da culpa pra que eu dormisse e, no dia seguinte, retomasse a minha rotina de admiração e culpa. </div>
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<br /></div>
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Não demorou muito pra eu começasse a observar, além de Alice, a matilha de pequenas lobas que ela comandava com sua doce presença. Foi ali que eu encontrei Luana, essa sim o começo. </div>
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<br /></div>
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Luana percebeu meus olhares atentos, minha falsa e pretensa discrição e o excesso de coincidência que sempre me fazia estar nos mesmos cafés, bares e restaurantes que aquela matilha. </div>
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<br /></div>
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Luana era perspicaz, atenta a tudo por trás dos seus óculos quadrados e não teria deixado a minha vigilância passar, e Luana era tão astuta que só deixou que eu percebesse a sua própria vigilância quando lhe foi conveniente. Entretanto, Luana sofria do mesmo mal que sofrem todas as meninas de vinte poucos anos: queria aventura e romance. Assim sendo, pra minha surpresa, um dia Luana me abordou, foi direta e incisiva, e só então eu entendi que a minha tragédia havia começado ali, com ela. </div>
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<br /></div>
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"Se você continuar me seguindo assim, vão achar que você está apaixonado."</div>
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<br /></div>
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Luana achava que era ela que me fazia ir a todos os cafés, bares e restaurantes e agir como um completo imbecil. Obviamente não era, mas obviamente eu não ia deixá-la descobrir. </div>
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<br /></div>
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Começaram assim o que seriam três meses de sexo nas bibliotecas, becos atrás de bares e salas de aula desertas. Aos poucos Alice havia se transformado em uma sombra, eu estava vivo de novo. Nada melhor pra fazer um homem de quarenta e poucos anos se sentir vivo que o calor que se esconde entre as pernas de uma mulher jovem, nada melhor que os olhares furtivos, nada melhor que o perigo do romance proibido. </div>
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<br /></div>
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Luana teve a sua aventura, e se cansou dela na mesma medida. O sexo tornou-se automático e pouco interessante, até pra mim que só tinha como parâmetro recente minha mão calejada. </div>
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<br /></div>
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"Se você continuar me seguindo, eu vou a Reitoria."</div>
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<br /></div>
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E assim eu fiquei sem Luana, fiquei sem Alice também. Perdi a inocência dos gestos e a perspicácia dos olhares. Me senti miserável por algumas semanas, bebi tudo que podia, perdi algumas aulas, deixei a barba crescer e, finalmente, fui cordialmente convidado pela Coordenadora de Graduação à tirar uma licença médica, da qual eu só seria liberado depois de apresentar o laudo de uma psicóloga. </div>
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<br /></div>
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Eu achava que sabia o que era conflito, mas só percebi que não sabia o que era isso quando me vi dentro daquele consultório que me fazia sentir asfixia, calor, claustrofobia. </div>
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<br /></div>
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Conflito pra mim não era mais a sensação de querer ter e tocar Alice e não poder. Conflito era querer calar a boca, parar de me expor, parar de cuspir cada pedacinho de mim em cima daquele sofá sob o olhar duro de Katherine e não conseguir. Conflito era a sensação de conforto que surgia dentro de mim imediatamente depois que eu achava que ia partir ao meio por me expor tanto... Eu não desejava Katherine, não queria casar e ter filhos com ela, não sentia nenhum amor por aquela figura feminina, mas pouco a pouco eu não conseguia viver mais sem ela. </div>
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<br /></div>
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Onde mora o conflito? O conflito mora naquela pequena casa barulhenta, sem portas e nem janelas, a casa da qual você não pode sair simplesmente por não saber como entrou. E eu me sentia preso nessa casa na presença da impassível Katherine. Ela não me aconselhava, ela não me julgava, ela me fazia perguntas, muitas perguntas, e às vezes nem isso: ela só me olhava e eu continuava a falar, falar, e falar.</div>
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<br /></div>
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Katherine me deu apenas um conselho, me disse que eu deveria sair e conhecer mulheres da minha idade, alguma coisa que ia me ajudar a superar a minha fixação por moças mais novas. E eu não sabia que era fixado em moças mais novas, mas aceitei o conselho. </div>
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<br /></div>
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Achei o fim, finalmente, o fim era a Paola. Paola me levava para degustar vinhos, falava sobre arte, entendia as minhas longas falas sobre a tragédia e o amor, se excitava quando eu falava sobre a vida de um jeito mais filosófico e não sabia nada sobre a minha vida anterior a ela mesmo. Não se interessava. Paola era uma tigresa. Tinha movimentos lentos, e era especialmente felina no quarto, tinha todos os sentidos apurados e transformava o meu corpo em um instrumento que só ela sabia tocar. </div>
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<br /></div>
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Paola me fez viver intensamente uma história de amor incrível. Incrivelmente breve também. Paola, semanas depois da primeira taça de vinho juntos teve a gentileza de confirmar seu papel como meu fim terrível numa breve mensagem: "conheci Michelle e me apaixonei. Espero que você entenda."</div>
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<br /></div>
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Eu entendi, sempre fui ótimo em entender tudo. Katherine me disse que eu não podia culpar ninguém, nem a mim mesmo, pelo jeito como as coisas aconteceram. Que eu precisava deixar a vida agir em mim do mesmo jeito que eu queria agir na vida... ou qualquer besteira dessa. </div>
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<br /></div>
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Eu não gostei disso, como assim eu não podia culpar Michelle por tirar a minha tigresa de mim? Odiei particularmente o fato de ver, alguns dias depois, Paola e Michelle juntas. Michelle, que até então eu tratava como uma variável completamente desconhecida, era a secretária do departamento de línguas da Universidade. </div>
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Eu já havia trocado duas ou três palavras com ela na última confraternização de fim de ano, tinha tentado chamar a atenção daqueles olhos verdes e convencer ela a passar a noite comigo nesse mesmo evento, mas a única resposta que recebi foi um vago "Você não é bem o que eu procuro". E agora eu tinha entendido porque. Elas estavam ali, duas mulheres completamente atraentes e completamente apaixonadas. Eu queria não existir, e quando elas me viram e, educadamente, seguiram seu caminho em direção à cafeteria no final do campus, quis segui-las. Senti falta da culpa que eu sentia depois de gozar pensando em Alice, senti falta do corpo quente de Luana e do sofá acolhedor de Katherine. Senti falta dos movimentos felinos de Paola e até mesmo da indiferença da Michelle... </div>
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Dei meia volta e, sentada num banco me observando com uma curiosidade pueril estava Elisa. Minha aluna mais brilhante, havia deixado a universidade com todas as honras e, eu me lembrava da formatura dela, da primeira turma que eu vi se formando aqui, como se fosse ontem. </div>
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<br /></div>
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Eu sabia que ela havia conseguido uma bolsa em algum país da Europa, todos no campo se conheciam e todo mundo sabia sobre os novos prodígios que apareciam aqui e ali... ela era um deles, e eu me orgulhava em especial por me lembrar de como ela movimentava todas as discussões com profundidade e ardor. Ela tinha um calor no olhar que fazia todo mundo ao redor querer se envolver em seus assuntos, devia ser carisma.</div>
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<br /></div>
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Era o mesmo calor que fluía daqueles olhos e inundava o meu estômago, fazia meu corpo ficar quente e nervoso. Eu era contemplado pelo começo da minha tragédia de novo. Ela era Elisa, e era Luana também. </div>
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<br /></div>
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A coisa com as tragédias é que elas têm um apelo particular pra cada uma de suas vítimas. Não se escapa a uma tragédia, elas são cenas maravilhosas que nos paralisam por um segundo antes de nos despertar a vontade de mergulhar. Eu fui, abracei o último pedaço da minha tragédia com o mesmo amor que abraçara todos os outros, sabendo que ela estava pronta pra me consumir. </div>
Mrs. Brightsidehttp://www.blogger.com/profile/15746788147802013527noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-754310164479222006.post-73612658114391550942014-04-17T14:30:00.001-03:002014-04-17T14:30:46.819-03:00Das qualidades e outras coisas<p dir=ltr>Como eu iria supor<br>
Que qualidades<br>
Quaisquer qualidades<br>
Diriam tão pouco<br>
Sobre o que habita<br>
Nos hábitos esquisitos<br>
Que eu cultivei<br>
Por pura vaidade</p>
Mrs. Brightsidehttp://www.blogger.com/profile/15746788147802013527noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-754310164479222006.post-20260270004348431702014-04-14T00:35:00.001-03:002014-04-14T00:35:02.855-03:00Perfis<p dir=ltr>1.<br>
Era mais um dia de silêncio. <br>
2. <br>
Acordar era sempre uma dor. Sair da cama pela manhã era sempre algo que incomodava os meus sentidos, mas eu continuava a acordar. Talvez ficasse melhor com o tempo, talvez ficasse melhor com o fim dos tempos. </p>
<p dir=ltr>Eu andava pensando muito no fim dos tempos, e em como isso pode ser, para além de qualquer prognóstico pessimista, o começo de uma nova era sem mim. E se essa era vai começar sem mim, presumo que será boa. </p>
<p dir=ltr>Eu já tinha levantado, vestido as roupas de trabalho e estava prestes a sair de casa. Caneca de café preto na mão, cara de quem não gosta do que vê, nunca… eu estava pronto, eu sempre estive pronto. E ainda assim, no caminho para o trabalho, eu não me sentia pronto de forma alguma. <br>
Eu costumava sonhar que estava em fase de teste. Anos de ficção científica e você acaba acreditando que esse é um pré mundo. Que um dia você vai ser selecionado para a próxima fase, sem sofrimento e sem tristeza. Um lugar novo onde a sua vida vai começar para valer… Mas de novo, se somos nós indo pra lá, como não vai existir sofrimento e tristeza? Dá para deixar de sentir assim, de uma hora para outra? É o que a maioria dos meus colegas busca, não é? Tem sempre aquele romântico incorrigível que não quer mais sofrer de amor, o cara da síndrome do pânico, a menina com TOC, o guri do final da rua que reclama da solidão…</p>
<p dir=ltr> Tanta gente que só quer parar de sentir e não consegue. Eu sou otimista. Acredito quer um dia vou aprender a sentir, aprender a lidar comigo mesmo para poder viver bem. Mas eu já tô com 24, e todo mundo morre com 30.</p>
<p dir=ltr>3.<br>
Não é porque a vida é uma merda que ela precisa ser disfuncional. É por isso que eu funciono, funciono muito bem, não sou do tipo que é funcionária do mês, nem daquele tipo de pessoa que tem muitos amigos e consegue dar conta de todos eles… Na verdade eu sou outra coisa, sou uma pessoa que alcançou a média e está extremamente contente com isso. Existe um conforto maravilhoso em não se destacar em nada. Não existe o peso da derrota esmagadora. Não existe o peso da vitória eterna e insuportável. <br>
Mas existe um problema com a média… normalmente eu não reclamo, mas existem momentos em que eu queria mais, acho que é um erro da minha programação.l</p>
<p dir=ltr> Alguma coisa dentro de mim pede sempre por mais, e eu não sei o que é. Mas isso não precisa ser ruim, ninguém por aqui sabe o que quer, a gente acha que sabe quando compra sorvete de chocolate ou cereja, pequenos luxos, mas não sabemos de verdade. </p>
<p dir=ltr>O que me incomoda é que eu me acho especial por não saber o que quero, eu não sou especial em nada, mas me sinto especial quando hesito. Tenho medo de ficar boa demais nisso.<br>
</p>
Mrs. Brightsidehttp://www.blogger.com/profile/15746788147802013527noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-754310164479222006.post-59730182087700478072014-04-08T14:12:00.000-03:002014-04-08T14:12:03.050-03:00VaiEu começo a escrever. Apago. Escrevo outra coisa. Apago. Reclamo da vida. Apago. Faço um poema. Apago. Falo de mim. Apago. Choro palavras. Apago.<br />
<br />
Aí eu pego o telefone. Largo. Pego o celular. Largo. Pego o tablet. Largo. Pego o notebook. Largo.<br />
<br />
Chamo a vizinha. Desconverso. Grito o porteiro. Desconverso. Falo com a minha mãe. Desconverso. Ligo pro amigo. Desconverso. Penso no assunto. Desconverso.<br />
<br />
<br />Mrs. Brightsidehttp://www.blogger.com/profile/15746788147802013527noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-754310164479222006.post-14205725037481425892012-03-10T14:09:00.001-03:002012-03-10T14:09:33.079-03:00Presença.<div style="text-align: justify;">
Eu sinto falta de algo que eu não sei o nome, que eu nunca vi, que eu não sei o que é, mas que por hoje eu pretendo descrever como presença. É simplesmente a presença que cala soluços e enxuga lágrimas, é presença branda e silenciosa que só eu vejo arder e sonar. Ela, a minha presença, não me acusa, não me estranha e muito menos me abandona, porque sabe que se for embora, eu definho tão rápido que nem percebo. Minha presença sabe que eu sou dura na queda, que eu posso aguentar desafios, que sou, eu mesma, um desafio considerável, mas não me deixa um minuto sozinha, porque o cuidado que ele tem comigo faz de mim, aço e manteiga, ao mesmo tempo, sob as mesmas condições. Eu não sei disso, porque não me disseram o nome, nunca vi e nem sei o que é, mas hoje cedo, quando acordei e não tinha essa tal presença, me senti igualzinha a ontem, e a ante-ontem, e ao dia que veio antes disso tudo. Me senti cheia de mim e vazia de outros, me senti egoísta e insuportável, porque se não tinha ninguém pra ser presença junto comigo, me escapavam até raios de sol que antes eram segurados pelas persianas frouxas, não tinha graça. E foi isso que me puxou de volta pra cama: a falta da presença.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>Mrs. Brightsidehttp://www.blogger.com/profile/15746788147802013527noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-754310164479222006.post-26112615169510765822012-02-27T21:36:00.000-03:002012-02-27T21:36:38.072-03:00O gestoFoi um gesto gestado<br />
Foi o pegar o telefone que demorou meses pra fazer sentido<br />
Foi a consulta ao oráculo pra saber se a consulta era necessária<br />
Foi o divino manifesto entre as corredeiras do sem fim do meu bem.<br />Foi dia, foi noite, foi morte e vida da Dionisia. Porque a Severina não estava aqui.<br />
Foi Thomas e Sabina.<br />
Foi luto dos outros e lágrimas minhas.<br />
Foi o meu luto nas lagrimas outras.<br />Foi o gesto gestado<br />
Foi um pegar no telefone que não pode ser anulado.Mrs. Brightsidehttp://www.blogger.com/profile/15746788147802013527noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-754310164479222006.post-56886575896335156812012-02-02T04:29:00.001-02:002012-02-04T13:10:01.073-02:00A histeria, o desejo e a vontade de gitar<div style="text-align: justify;">
-Eu não sei escrever mais nada, não sei falar, perdi a voz que eu mesmo me concedi. E se me perguntam o porque da mudez repentina, eu vou culpar tudo, menos a mim mesma, que resolvi pelo silêncio mesmo quando meu corpo gritava 'ais'. E se a voz já se foi, aos poucos os sonhos vão indo junto, as horas ficam curtas, o escritório passa a ser seu cosmos e a academia te engole tão rápido que em pouco tempo, o ser imaginativo que vivia dentro de você vira, também, um burocrata vestido de terno cinza e pasta alinhada em baixo do braço. </div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
-Deixa essa voz sair, não é dia de agir como a última histérica da Lapa. Para de fricote e deixa o corpo gritar, se precisar de ajuda pra desentalar o grito, me chama, porque conheço teu corpo tão bem quanto meu piano, e tiro dele as tuas bachianas nem que me leve um mês inteiro. Nem que te suma a voz na rouquidão, mas até lá, esse corpo já terá gritado o suficiente.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>Mrs. Brightsidehttp://www.blogger.com/profile/15746788147802013527noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-754310164479222006.post-21979422157093374672012-01-31T18:32:00.000-02:002012-01-31T18:32:27.798-02:00Fins de tarde e outras coisas.Senta aqui, vamos conversar enquanto existe tempo pra conversa<br />
Ouve minha voz, eu ouço a tua e a gente brinca de dialogar<br />
Sem espaço pra brigas, porque não somos ais crianças<br />
Sem espaço pra choro, também não quero vela e nem missa.<br />
<br />
Podemos nos encontrar nas esquinas, enquanto existe tempo pro bar<br />
Cerveja gelada, samba baixinho e a gente brincando de ser boemio<br />
Sem espaço pras coisas sérias da vida, porque não somos adultos completos<br />
Sem espaço pra inimizades, a vida é curta, é breve e bela.<br />
<br />
Também tem a conversa no portão, enquanto existe horário de verão<br />
Cadeira de plástico e som alto, e a gente brincado de banho de mangueira<br />
Sem espaço pra nostalgia, o que vale é o agora virando o amanhã que não corre no tempo.<br />
Sem espaço pra desistências: é preciso celebrar o que se tem, pouco, frouxo e infinito.Mrs. Brightsidehttp://www.blogger.com/profile/15746788147802013527noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-754310164479222006.post-83491020876219007442012-01-29T00:53:00.001-02:002012-01-29T00:54:29.225-02:00Vô Miguel<div style="text-align: justify;">
Queridos bisnetos, netos, filhos, esposa, e meninos do time da escola,</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhZELKSiWINBBYF5yq7pTguTvZkJiGGiaYd5ve5_digE7bKW9T3g5CwDn8Pz1cHLmzEs5fN2bjfBYOImfWnX8UfVbEMf5QlJSCCC2O6pMm6RHvvvRxEkCgcskAYGFmALO2jwW1G44H-3fM/s1600/tempo.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhZELKSiWINBBYF5yq7pTguTvZkJiGGiaYd5ve5_digE7bKW9T3g5CwDn8Pz1cHLmzEs5fN2bjfBYOImfWnX8UfVbEMf5QlJSCCC2O6pMm6RHvvvRxEkCgcskAYGFmALO2jwW1G44H-3fM/s400/tempo.jpg" width="385" /></a>hoje foi o dia em que, mais uma vez, e acredite em mim depois dos sessenta anos isso acontece com uma frequência maior que o esperado, especulei sobre o fim de todos nós, foi dia de pensar sobre a morte. </div>
<div style="text-align: justify;">
Essa elegante senhora de túnicas pretas e foice sempre em mãos, responsável por lembrar a todos nós que o os valores da terra nada valem, me deixou com a pulga atrás da orelha. O fato é que fiquei pensando hoje sobre o valor da morte pros que morrem. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Vamos deixar estabelecido que essa discussão só se fez necessária porque o valor da morte pros que ficam é infinitamente conhecido e explorado, mas ninguém sabe, por motivos óbvios, o que acontece depois que a luz branca nos engole. Alguns dizem que o playground é lá, com as quarenta virgens e tudo mais... pra outros, é a condenação final, a concentração de todos os sofrimentos... pra mim é vazio. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Vejam bem, eu até que acredito em Deus, do meu jeito torto, mas acredito. E eu certamente não descarto a possibilidade de que existam coisas infinitamente melhores pra alguns e bem piores pra outros, mas pra mim, a morte é o fim da expectativa, da espera, do medo, do prazer e de sua ausência, morte é silenciamento, e o silêncio é vazio porque nada lá pode ressoar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Silêncio e vazio não podem ser eternos, silêncio e vazio enlouquecem, e não existiria propósito na vida se fossemos deixar a loucura pra um lugar onde ela não pode ser compartilhada, portanto, a morte é, no final das contas, um espaço entre o que você foi e o que você será. E o significado disso? "Nem tudo precisa ter significado, Vô Miguel!" Não é o que sempre me dizem?... então me dou por satisfeito.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Por fim, preciso vos dizer que não quero que pensem que sou um velho taciturno, em cima dos seus 90 anos falando asneiras sobre a morte, não, isso é a última coisa que sou. No fim, quero que saibam que, quando chegar a hora, estarei tranquilo, porque vivi, e quem vive sabe bem que a vida tem um fim. Não espero ansioso pelo meu, mas saber que ele vai chegar é ter certeza de que estou aqui, e enquanto estiver, farei jus a minha estadia. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Chorem quando eu me for, porque é isso que os vivos fazem quando sentem saudade, mas não façam isso em voz alta: não atrapalhem o meu silêncio.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: right;">
Miguel Lauro D'arantes,<br />
bisavô, avô, pai, marido e zagueiro do time da escola.</div>Mrs. Brightsidehttp://www.blogger.com/profile/15746788147802013527noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-754310164479222006.post-36711061068672235012012-01-27T04:28:00.002-02:002012-01-27T04:28:20.121-02:00A vida morreu<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjOl4DOtrQPmJgRV1Mez0peHEsHbtfg73IjZuyvAJRiQy8XA1gjSF_m9J5dOl-il0Y2V7KLUxH3nfJMDPf9f42Ugcn2qod5MnOqmrTYEXsLCv_9f8X1SQQqtpFfsiGDKvtg45Z3x1WZeTM/s1600/funeral.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="242" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjOl4DOtrQPmJgRV1Mez0peHEsHbtfg73IjZuyvAJRiQy8XA1gjSF_m9J5dOl-il0Y2V7KLUxH3nfJMDPf9f42Ugcn2qod5MnOqmrTYEXsLCv_9f8X1SQQqtpFfsiGDKvtg45Z3x1WZeTM/s320/funeral.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
Cansei de apreciar a vida, essa odiosa sucessão de fins de semana vazios e complicados. De hoje em diante eu só gosto da morte, e se ser mórbido é minha nova moda, vou tirar o preto do armário e fazer do meu luto uma celebração: a vida morreu, mas eu continuo aqui, de pé olhando pros seus restos mortais e me decidindo entre beber o defunto e enterrar os ossos.</div>Mrs. Brightsidehttp://www.blogger.com/profile/15746788147802013527noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-754310164479222006.post-31660811425675335252012-01-26T15:42:00.001-02:002012-01-26T15:42:17.632-02:00Sambei, Sambou<div style="text-align: justify;">
E o samba?</div>
<div style="text-align: justify;">
Quando aquela calma te invade, te morde as carnes deixando que o veneno da paz te amoleça bem devagar, você sabe que o corpo só vai voltar a se rebelar quando ouvir um samba. E aí, meu amigo, pode ser um da Vila, da Zona Sul ou até aquele que se embola com o baião, não importa: é só o samba que vai fazer seu corpo sair da inércia.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E quando o seu nêgo canta devagar pra você, com aquela voz rouca que te envolve, não importa mais quem tá certo ou errado, você vai lá cuidar dele, porque ele pediu, igual ao Martinho, e todo mundo sabe que só os boêmios amam daquele jeito que você gosta, não é? E nem adianta dar chilique, porque ele já disse que se você não quiser sambar pra ele, isso é problema seu.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E você vem devagarzinho, brincar de ser meu bem. Perdendo medo, vem rodar com gente e fazer dessa roda, a única coisa que importa nessa noite. Com cerveja, caipirinha, sandália rasteira que aos poucos fica de lado e sorriso, porque sem sorriso não tem samba... sem mágoa não tem samba... sem festa não tem samba... sem vida não tem samba, sem vida, não dá pra sambar.</div>Mrs. Brightsidehttp://www.blogger.com/profile/15746788147802013527noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-754310164479222006.post-57607792742083132602012-01-24T23:19:00.003-02:002012-01-24T23:19:44.728-02:00Eeu quero escrever sobre o amor.<div style="text-align: justify;">
Acho que perder a razão é mais fácil que achar um motivo, pelo menos quando eu penso em você.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Perder o medo é mais simples que encontrar uma saída, e isso não foi decidido por mim, mas fui eu que sofri com as consequências dos atos não programados e intensamente vividos. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Perder os dentes é uma coisa, perder o juízo antes de perder os dentes é muito mais grave, e a velhice não explica.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Perder o primeiro amor na memória é permitido, mas não se pode perder o primeiro amor na vida. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E se nós não estamos sozinhos, se não estamos largados, talvez a noite seja mais agradável agora. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Eu acordei querendo escrever sobre amor, mais uma vez, mas queria que dessa vez fosse verdadeiro. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Mas como falar de amor sem ter perdido a razão tentando achar um motivo?</div>Mrs. Brightsidehttp://www.blogger.com/profile/15746788147802013527noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-754310164479222006.post-78776986933429057472012-01-23T13:17:00.001-02:002012-01-23T13:17:29.831-02:00Você e euSejamos vazios e silenciosos<br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhExQxniTBiy9WWz19rCA6qO7EFYBxbXjSz4fUqzMDy32MNHFLYI-5hbXEf1a616rbKzn4rsJAULdQFC_YWaYiXn5bFwfKFYcepoy7dDs5JGgX4f_KcOtHzeaFfpfoTnxHjti9jVBimZHQ/s1600/LOVE-LETTERS-OF-SPRING.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="236" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhExQxniTBiy9WWz19rCA6qO7EFYBxbXjSz4fUqzMDy32MNHFLYI-5hbXEf1a616rbKzn4rsJAULdQFC_YWaYiXn5bFwfKFYcepoy7dDs5JGgX4f_KcOtHzeaFfpfoTnxHjti9jVBimZHQ/s320/LOVE-LETTERS-OF-SPRING.jpg" width="320" /></a>vamos brincar com o cinza e fugir do azul<br />
vamos nos entregar a falta de assunto e de coração<br />
sejamos você e eu.<br />
<br />
Vamos fingir que nos amamos<br />
sejamos amigos numa tarde ensolarada<br />
sejamos amantes numa noite nublada<br />
vamos comemorar o sucesso que nunca chega.<br />
<br />
Sejamos soneto e poesia<br />
vamos ter música aos domingos<br />
vamos ter um par de filhos lindos<br />
sejamos a mentira que todos adoram ver.Mrs. Brightsidehttp://www.blogger.com/profile/15746788147802013527noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-754310164479222006.post-6446399757030875872012-01-19T00:25:00.001-02:002012-01-19T00:25:50.712-02:00Canção pra quando você me deixar.Eu não tenho o que você quer,<br />
não sou sua mulher<br />
não sou ninguém<br />
<br />
Eu vou derrubar esse muro<br />
parar de falar absurdos<br />
de tentar ir além<br />
<br />
Você, me aprisionou entre seus dedos<br />
Me fez gemer, gritar de medo<br />
me fez crer no fim<br />
<br />
Agora, vai e nem deixa a porta aberta<br />
não anuncia que acabou a festa<br />
não gosta mais de mim<br />
<br />
Ah, a vida era espera até você chegar<br />
A noite era doce, e eu só precisava chamar<br />
Seu nome, por entre os travesseiros<br />
sua pele, marcada pelo meu desejo<br />
<br />
Ah, era doce e acabou<br />
era veneno e me matou por dentro<br />
agora, o que sobrou pra mim?<br />
Fotos rasgadas e algum dramin<br />
dor de cabeça e desespero.Mrs. Brightsidehttp://www.blogger.com/profile/15746788147802013527noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-754310164479222006.post-33045641812283491222012-01-12T23:50:00.000-02:002012-01-12T23:50:46.200-02:00Aos Tranquilos.<div style="text-align: justify;">
Ser inquieto é bom, ser comedido não. </div>
<div style="text-align: justify;">
A vida inteira eu ouvi que os criativos, os soltos, os extrovertidos podem dominar o mundo. Mas os comedidos devem sentar e assistir o seu mundo ser dominado por esses bufões pouco sinceros e de coração inacessível.</div>
<div style="text-align: justify;">
Esquecem-se, na maioria das vezes, que intranquilidade e inquietude não são sinônimos, e que pulga na cueca não se relaciona diretamente com energia e potência... talvez com falta de higiene, mas de forma alguma com disposição.</div>
<div style="text-align: justify;">
Existe o mito de que a criança que não quer brincar lá fora é antipática, de que a adolescente que não quer ir ao shopping tá deprimida e de que o adulto que não bebe é um idiota. Existe o mito de que as almas tranquilas são taciturnas, maquiavélicas e cansadas. </div>
<div style="text-align: justify;">
Talvez, sem nunca ter amado uma alma tranquila, a maior parte do mundo acredite nisso, e portanto, se tranca num mundo de falsas opiniões sem ver que quem reserva suas energias a introspecção, reserva sua potência ao amor. A todo amor.</div>
<div style="text-align: justify;">
Os tranquilos têm tempo de amar com calma, de sentir falta, de sorrir e de enxergar beleza. De fazer bagunça quando sente vontade, de pular na piscina de roupa e de comer chocolate no café-da-manhã: sem culpa, sem remorso.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Eu invejo as almas tranquilas, eu as admiro e de hoje em diante, não nego que as amo.</div>Mrs. Brightsidehttp://www.blogger.com/profile/15746788147802013527noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-754310164479222006.post-53404540158137914502012-01-10T13:40:00.002-02:002012-01-10T13:42:05.263-02:00Eu nego!<div style="text-align: justify;">
Negar o amor, na maior parte do tempo, é mais difícil que amar. </div>
<div style="text-align: justify;">
Digo isso porque demonstrar afeição, carinho e cuidado, todos nós conseguimos. Agora suportar o seu bem querer desfilando com o seu respectivo bem querer bem na sua frente, e sustentar aquele sorriso plácido que faz ele acreditar que você é de fato feliz por vê-lo feliz, isso é tarefa hercúlea. </div>
<div style="text-align: justify;">
Fazer calar o egoísmo pra não se tornar "aquela amiga chata que não vai com a cara da minha namorada", é o mais difícil, ainda mais quando a namorada em questão é uma dessas garotinhas leves, de sorriso constante e ar de borboleta. Quem não se encantaria por esse serzinho odioso e que, por sinal, só é odioso porque escolheu amar o amor errado, o meu amor. </div>
<div style="text-align: justify;">
E nem preciso falar que eu vou estar aqui quando o sonho acabar, né? Aí você vai precisar conversar, vai precisar desabafar, vai querer falar que o amor não tem jeito, que não vai nunca mais abrir teu peito, porque pra cada vez que ele se abrir, você vai sentir de novo aquele contentamento seguido daquela dor dilacerante, e você já sabe o que eu vou dizer: "Deixa disso camarada, seu papo é conversa fiada. Eu bem sei que você não vive sem alguém, e seu peito só para de reclamar quando volta a se aninhar em alguém". E você achando que é brincadeira, sem perceber que a minha afeição é mais que coisa de amigo, vai me dizendo "Agora eu só amo se for você. a única fêmea que não me decepciona". Me beija a bochecha e sorri, e eu, com aquele sorriso amarelo, sinto o amarelo se espalhar pelo meu corpo, e não consigo falar pelos próximos dois minutos. </div>
<div style="text-align: justify;">
E quando você me fala de desejo, eu que guardo meu desejo em você, quase desfaleço. Eu que queria amar pouquinho, só gostar se for 'devagarinho', me vejo arder, queimar e enrubescer. Tudo por dentro, tudo sem pra quê. </div>
<div style="text-align: justify;">
Por isso, quando penso em você, quando escrevo de você, tenho certeza que difícil não é amar, amar qualquer um ama. Difícil é voar com uma asa só, sem ter apoio, sabendo que a cada segundo que passa, o chão está mais próximo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
E se me perguntarem se eu te amo, eu nego. </div>Mrs. Brightsidehttp://www.blogger.com/profile/15746788147802013527noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-754310164479222006.post-30708473114765808182012-01-08T17:41:00.002-02:002012-01-08T17:43:34.697-02:00A festaE você me mostrou as marcas no seu corpo<br />
<div>
cada pequena cicatriz representava uma noite acordado</div>
<div>
e eu esperava que fosse exatamente assim</div>
<div>
você só não sabia que isso era parte de uma ficção</div>
<div>
plena em insônia e morta em cores: pra você era sempre o preto.</div>
<div>
<br /></div>
<div>
E aquela outra menina me mostrou as meias rasgadas nas coxas</div>
<div>
e todos nós sabíamos que seria assim</div>
<div>
e com todo tom vulgar, ela teve alguém pra amar</div>
<div>
mesmo que por uma noite</div>
<div>
pra ela, aquela noite foi vermelha.</div>
<div>
<br /></div>
<div>
Teve aquele casal também, que não se descuidava um minuto</div>
<div>
todo olhar era carinhoso, todo toque era planejado</div>
<div>
e todo sorriso era amavelmente retribuído</div>
<div>
eles tinham o que metade daquela festa queria</div>
<div>
e pra eles a noite foi em tons de azul-quase-verde.</div>
<div>
<br /></div>
<div>
Teve a menina que não sabia que estava numa festa</div>
<div>
que ficou no canto chorando e maldizendo a vida dos outros</div>
<div>
com uma pose patética, um olhar perdido</div>
<div>
criando assunto pras intrigas...</div>
<div>
pra ela, só restou o cinza chumbo.</div>
<div>
<br /></div>
<div>
Teve todo o tipo de gente, se mexendo, dançando</div>
<div>
mas esses só completavam a cena</div>
<div>
não eram protagonistas, nem antagonistas e nem coadjuvantes</div>
<div>
eram figurantes... mas isso é porque sou eu quem escrevo e dou cor</div>
<div>
esse ficaram de lilás.</div>
<div>
<br /></div>
<div>
E teve a escritora, observando tudo e roubando da vida os personagens pras suas linhas tortas</div>
<div>
essa estava disfarçada, também dançou, bebeu, se mexeu e até chorou um pouquinho</div>
<div>
escritor adora roubar as cores dos outros</div>
<div>
e como de costume, quando chegou em casa tão colorida assim,</div>
<div>
abriu um bloco de notas e começou a despejar tudo que viu, até voltar pro seu branco.</div>
<div>
<br /></div>Mrs. Brightsidehttp://www.blogger.com/profile/15746788147802013527noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-754310164479222006.post-5024371567700175302012-01-05T12:55:00.002-02:002012-01-05T12:55:31.656-02:00Ah, o meu bem<br />
Eu peguei a mão dele da forma mais suave que pude<br />
Lembro dos meus dedos se entrelaçando aos dele<br />
E dos nossos sorrisos se misturando bem devagar<br />
E depois, lembro daquele abraço forte<br />
Aquele abraço que quase me fazia chorar<br />
Aquele abraço que me prendia num mundo paralelo<br />
<br />
Eu sinto seu cheiro e mordo meus lábios de olhos fechados<br />
Rolo pela grama sentindo em cada volta seu cuidado pra não deixar seu corpo
pesar em mim<br />
Lembro da gargalhada sonora e dos olhares dos outros quando eu abri os
olhos<br />
Mas eu lembro principalmente de parar no olhar dele, cuidadoso e
inteiro.<br />Olhar de quem quer cuidar, amar e entregar cada parcela do seu
tempo<br />
<br />
Eu lembro de não querer ir embora, de ficar enrolando, de ficar me fazendo de
mole<br />
Lembro dele rindo de tudo, me achando boba<br />
Mas boba de um jeito que só eu conseguia ser.<br />Eu lembro de ser amada por
ele, como eu nunca fui por ninguém. <br />
Ah, eu lembro do meu bem. E do bem que ele me fez eu não lembro, desse eu
sei<br />
<br />Mrs. Brightsidehttp://www.blogger.com/profile/15746788147802013527noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-754310164479222006.post-7099619355348262102011-12-28T11:30:00.001-02:002011-12-28T11:31:19.948-02:00Absurdos - II<div style="text-align: justify;">
Aconteceu. </div>
<div style="text-align: justify;">
Foi um daqueles momentos em que o acaso supera o planejamento, e nada que você faça, fale ou pense vai mudar o que já está feito. E quando te perguntarem daqui a 15 anos sobre essa noite, a sua resposta ainda vai ser "aconteceu".</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E não adiantou se arrumar toda, se vestir toda bonita e ficar horas planejando a maquiagem. Ninguém reparou nos seus sapatos bonitos também, e as músicas que você queria ouvir não tocaram. Entretanto, a esperança ainda estava lá. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Então não serviu de nada toda expectativa, todo preparo, toda espera: ele não estava ali. A festa era inútil, o momento estava perdido e tudo teve fim. Mais uma vez, aconteceu o desespero, o choro no banheiro e o silenciamento da paixão que demorou uma semana pra amadurecer na coragem. Aconteceu a decepção, o vazio, o medo de ser a única dançando sozinha pela eternidade. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Mas você não ode evitar, pode? Não existem meios pra se fugir do destino, existem? E todas as perguntas sobre o sentido da sua vida voltam, não voltam? Mas você ainda está ali, de pé. E enquanto estiver de pé, ainda existe esperança. Enquanto estiver de pé, ainda vai se comportar com uma boba preocupada com roupas, sapatos e maquiagens perfeitas que não agradam a ninguém, nem a você própria. Enquanto estiver de pé, ainda vai se preocupar com as músicas que só você reconhece, com os filmes que só falam das suas tristezas e com as histórias que só falam de amor... Talvez seja melhor sentar. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Eu nem queria estar naquele lugar, mas tinha gente que dizia que eu queria, e talvez eu acreditasse neles. Tinha gente que me dizia pra procurar um tratamento, e eu talvez não quisesse acreditar neles. Tinha gente que queria me abraçar, mas eu não queria qualquer abraço, queria um só que nunca vinha. Tinha gente que sentia saudade de mim, mas qual era o propósito de sentir falta? Eu nunca saberia dizer, e a resposta pra tudo de inconsequente que eu fazia na vida era sempre a mesma: "Aconteceu!". </div>Mrs. Brightsidehttp://www.blogger.com/profile/15746788147802013527noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-754310164479222006.post-13512280090004705412011-12-26T23:50:00.000-02:002011-12-26T23:50:08.946-02:00Absurdos - I<div style="text-align: justify;">
A vida não é pra todos. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Hoje acordei severamente inclinada a acreditar que a vida, com as suas delícias, dores, aventuras e desventuras, não é algo que alcance a todos. Alguns poucos desafortunados sempre ficam de fora e têm que se contentar a assistir àquela enorme multidão de sortudos desfrutar de tudo que eles nunca terão.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E talvez, por puro egoísmo, alguns dos que estão dentro da vida, dirão com aquele olhar de lado: ah, mas você tá de fora porque quer, a festa é aberta a todos... Talvez seja, mas sabe aquela sensação de que você não é bem vindo? É sempre ela que te faz perceber que o seu lugar é lá fora. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Então, algumas vezes, você cansa de sentar pra observar e tenta entrar na vida, tenta encontrar pequenas brechas pra estar com os que vivem... mas não dá certo, e uma vez atrás da outra você é arrancado violentamente do convívio dos felizes. Sobram soluços, arranhões, dor-de-cabeça, uma baita ressaca moral e a certeza de que não vai tentar nunca mais entrar nessa loucura que é a vida dos outros. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Alguns dizem que é só drama, mas você sabe o que sente quando as luzes se apagam e você está sentado no canto observando, então não deve ser um crime querer tentar de novo. Então você espera as luzes apagarem e se levanta, vai até o centro do salão e arrisca uma dança. Mas aquela não é a sua música, você não conhece os passos, e aquela sensação de que existem pares de olhos chicoteando as suas costas persiste.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E então você volta a sentar, e aquelas pessoas que te olhavam antes, voltam a dizer que você deveria experimentar a vida, e que a culpa é sua se a vida não te dá uma chance... Talvez seja, mas você não tem tanta força assim pra tentar de novo. Busca refúgio num livro ou caderno velho, e espera que a força da tentativa algum dia se transforme em vontade de potência. </div>Mrs. Brightsidehttp://www.blogger.com/profile/15746788147802013527noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-754310164479222006.post-61045888889080074082011-12-24T00:33:00.001-02:002011-12-25T22:34:45.246-02:00Nota sobre o desencontroAh, meu amor, se você soubesse o que eu guardo aqui, tenho a impressão de que correria tão depressa pra mim, que ao me encontrar, morreria de exaustão<br />
<br />
E se eu já soubesse onde você está, tenho a impressão de que acabaria com toda espera, com todo prelúdio e com todo prólogo: eles não seriam tão importantes quanto o nosso encontro.<br />
<br />
E eu iria escrever um livro, cheio de textos bonitos que falassem só de encontro, só de começos, só das nossas angústias.<br />
<br />
E se você já passou por mim, espero que o mundo de fato dê voltas, uma bem rapidinha, pra te fazer passar aqui de novo.<br />
<br />Mrs. Brightsidehttp://www.blogger.com/profile/15746788147802013527noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-754310164479222006.post-58849911836016322692011-12-18T22:25:00.000-02:002011-12-18T22:25:58.655-02:00E às vezes...Eu me peguei pensando que os às vezes também mata, que o talvez também sufoca, e que o adeus é quase sempre o seu melhor amigo.<br />
<div>
<br /></div>
<div>
E eu andei preocupada achando que a vida era fácil, pensando que meu problema era falta de espaço, sendo a criança que eu sempre via nos outros.</div>
<div>
<br /></div>
<div>
Eu julguei, julgo e julgarei: mas eu prometo tentar não pesar a mão, porque hoje eu sei que os meus criminosos</div>
<div>
são muito parecidos comigo do que eu podia supor á um tempo atrás. </div>
<div>
<br /></div>
<div>
E eu espero que o amor me alcance, por mais que eu fuja dele, e que a sabedoria não me paralise, me impedindo de verdadeiramente correr atrás dela.</div>
<div>
<br /></div>
<div>
Eu queria, finalmente, que os amigos não fossem nunca embora, mas como eu sei que eles irão, que eu consiga ir antes. E da família, só quero que nunca me entendam, mas que sempre me acolham... </div>
<div>
<br /></div>Mrs. Brightsidehttp://www.blogger.com/profile/15746788147802013527noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-754310164479222006.post-42273454601715073712011-12-17T05:32:00.003-02:002011-12-17T05:32:43.009-02:00Sobre o tempo<br />
o que me incomoda não é tempo, mas sim como ele passa<br />
não é o tempo e as suas coisas que me fazem mal, mas sim as coisas que eu perco no tempo<br />
é a facilidade com que o tempo me assalta todos os dias que me dá medo<br />
é como o tempo se comporta comigo que me desespera<br />
é como eu me comporto com o tempo que me entristece<br />
é sentir o tempo sempre me desapontar<br />
é sentir o sorriso sempre se esvair com o tempo<br />
é saber que a festa vai acabar com o tempo<br />
é me sentir mudando com o tempo<br />
é culpar o tempo de tudo, pra depois dizer que só ele cura tudo<br />
é o tempo sempre se encolher quando eu quero que ele se estique<br />
é o tempo ser preguiçoso quando eu quero que ele vá rápido<br />
é o tempo nunca concordar comigo<br />
o que me incomoda, é perceber que eu não me encaixo no tempo<br />
o que me faz mal é não fazer o tempo caber em mim.<br />Mrs. Brightsidehttp://www.blogger.com/profile/15746788147802013527noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-754310164479222006.post-60651367977071541762011-12-15T03:33:00.000-02:002011-12-15T04:52:10.643-02:00Caixinha<div style="text-align: justify;">
Era uma pequena caixinha em cima de uma mesa de tamanho médio, nada extraordinário, nada fora do comum. Mas foi preciso apenas que lhe dissessem que não podia nunca abrir aquela pequena caixa, pra que tudo se transformasse: de um momento pro outro, aquela pequena caixa de madeira, sem tranca, sem nada, virou a sua melhor amiga, companheira de aventuras, dessas que você pode confiar mesmo. </div>
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Se ela virasse uma pirata, a caixinha era o baú do tesouro. Se uma invasão alienigena se aproximasse, dentro daquela caixinha estava a fonte de energia que ia salvar o mundo de um enorme colapso. E naqueles dias em que ela virava agente secreta, dessas que guardam uma arma no tornozelo e tem dispositivos de alta tecnologia escondidos em relógios e colares, era na caixinha que ela podia guardar os segredos de estado: só ali as coisas estariam de fato seguras. </div>
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Quando as brincadeiras foram deixadas pra trás, a caixinha mudou de lugar, ganhou um espaço bem bonito na prateleira do quarto. Sua mãe queria jogar fora, mas ela não podia deixar sua companheira de aventuras ir embora, então ficou ali, entre os porta-retratos e os ursinhos de pelucia, já sem o brilho do verniz, com a quina lascada por conta de um tombo, apoiada em cima de dois diários velhos. Mesmo assim, quase aposentada, a caixinha ainda tinha forças pra desempenhar o seu papel de melhor amiga: na primeira vez que aquele garotinho estúpido da sétima série disse que ela não era bonita o suficiente, olhar pra'quele cubo de madeira foi o suficiente pra pensar: "Quem se importa com o que ele pensa? Já fui pirata, agente secreta e já salvei o mundo de um colapso intergaláctico... não vai ser por um bobalhão desses que eu vou sair do eixo." E então no dia seguinte, lá estava ela, de laço de fita no cabelo, com a graça de uma princesa, fazendo com que o atrevido rapaz do dia anterior se arrependesse de cada palavra. </div>
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E houveram outros rapazes, alguns completamente adequados, outro nem tanto... mas sempre que eles iam embora, a caixinha estava ali pra salvar o dia com as suas linhas perfeitamente retas. Foi promovida, de fato, quando chegou a hora de passar no vestibular, a prateleira se encheu de livros, os ursinhos de pelúcia foram parar no armário, e a caixinha na mesinha de cabeceira. Assim ficava mais fácil de ouvir seus conselhos. </div>
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Então um dia, após o outro, a menina se transformou em mulher, era agora formada, pensava em se casar, já tinha até encontrado o alvo de suas fantasias românticas, e quando o grande dia chegou e sua mãe, mais uma vez, tentou fazer com que ela deixasse a caixinha pra trás, ela bateu pé e conseguiu assegurar que a maravilhosa caixinha fosse junto com ela nessa nova viagem. Infelizmente a caixinha não pode ir ao casamento, perdeu uma bela cerimônia, de fato... mas nada que pudesse abalar uma amizade tão forte. </div>
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Um dia, depois de muito chorar, tomar coragem de entrar na farmácia, pegar impaciente aquele teste de gravidez e correr pra casa o mais rápido possível, ela pode contar, mais uma vez, com aquela caixinha de aparência antiga. Foi a primeira a saber que a nossa menina, traria uma criança à Terra...e meses depois, também foi a primeira a saber que seria uma adorável menininha. Entretanto, nossa história se aproxima de um ponto muito delicado, pois vejam: não é que a nossa protagonista não tenha tido fé, muito pelo contrário, ela sempre acreditou cegamente naquela caixinha. Mas passados vinte e tantos anos, sentiu-se autorizada a saber quais segredos sua amiga realmente escondia, quer dizer, ela seria mãe agora, e assim como a sua própria mãe, tinha o direito de saber dos segredos que os filhos não podem acessar. </div>
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Então furtivamente, como quem rouba um diário e tem medo de ser descoberto, ela pegou aquela caixinha em suas mãos, abriu devagar, e teve que fazer um pouco de força, porque era óbvio que ninguém a abria há muitos anos. E o que ela viu lá dentro a deixou pasma, ela não podia acreditar em seus olhos, e no primeiro impacto quis gritar: não tinha nada dentro daquela caixa de madeira. E de repente, toda sua vida pareceu uma mentira, não era pirata, nem agente secreta, nem tinha salvo o mundo. Não tinha confiança em si mesma e a única coisa que considerava verdadeira em sua vida, tinha se revelado mais um espaço onde reina apenas o vazio.</div>
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E muita gente pararia nesse ponto, pra mim, a história teria terminado aqui também. Mas a nossa heroína era mais sábia do que nós poderíamos imaginar. Vejam só vocês que, depois de tanto choro, quando a nossa menina quase pegava no sono, a caixinha falou com ela outra vez. Muito indignada, é claro, por depois de todos esses anos ter sido rebaixada a 'nada', era ultrajante demais até para uma caixa de madeira sem o brilho do verniz e com a quina lascada. Ela não ia aceitar isso, depois de todos esses anos servindo de portal para uma das mais ricas, palavras da caixinha, imaginações do mundo, tinha que ouvir agora todo esse choro patético sobre uma pobre menina que não consegue aceitar os seus dons?! Era demais, até pra uma caixa. </div>
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A nossa menina percebeu, então, que aquela caixinha de madeira não era nada demais, é claro que não, se não fosse por ela mesma ter dado tantos novos sentidos pra ela. Quando seus pais disseram que ela não devia abrir aquela caixinha, talvez por medo de que ela prendesse o dedo naquela tampa pesada, abriram um mundo de possibilidades que, de outra forma, estariam inacessíveis.<br />
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E pra quem demanda finais felizes, eu não posso vos dar essa noite... mas o melhor que farei será acusar pra onde a nossa história segue: refeita de sua crise de choro, nossa menina recolheu sua caixinha e voltou e fechá-la, levantou com toda a dificuldade que os últimos meses de gravidez impõe a uma mulher e caminhou até o quarto delicadamente decorado de lilás e branco. Pousou a caixinha devagar sobre a mesa ao lado do berço, e ficou ali por alguns minutos... só tentando imaginar em quais aventuras a nossa próxima pirata, agente secreta ou salvadora do mundo poderá se meter. </div>Mrs. Brightsidehttp://www.blogger.com/profile/15746788147802013527noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-754310164479222006.post-63053858895406827802011-12-14T02:11:00.000-02:002011-12-14T14:41:45.266-02:00Pausa nos escritos: vamos falar de inspiração.<div style="text-align: justify;">
É isso, falar do que inspira, do que serve de matéria não só pra escrever mas também pra encarar o dia-a-dia de estudante de história que se encontra em eterna procrastinação de projetos. </div>
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Pra começar, Jane Austen. Podem falar o que quiser: é piegas, livro de mulherzinha, é bobeira pura... não importa. Orgulho e Preconceito tá sempre na minha mesinha de cabeceira, sempre pronto pra fazer carinho nos meus olhos. Pra completar minha alegria de fã, achei o link da série feita pela BBC em 1995 lá no <a href="http://cinemadeclasse.blogspot.com/2010/02/serie-orgulho-e-preconceito-bbc-rmvb.html" target="_blank">Cinema de Classe</a>. Tem Colin Firth no seu primeiro Mr. Darcy (o segundo foi no Diário de Bridget Jones, lembram do Mr. Mark Darcy?), vale a pena arriscar. (: </div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhX00TIsddmLRNisYcOXX8vafOXM0EuXEeNKfc_ydOohNsWE-sUIVSFnj9KQcXEVHo5NXkODxaaPkPO6FBIWBYjFMi13VOxxYrHOpfRrSz6fct3a-aEDeceJ0XRkpgcG27aUKsKKHvlFJg/s1600/pride_and_prejudice_2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="265" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhX00TIsddmLRNisYcOXX8vafOXM0EuXEeNKfc_ydOohNsWE-sUIVSFnj9KQcXEVHo5NXkODxaaPkPO6FBIWBYjFMi13VOxxYrHOpfRrSz6fct3a-aEDeceJ0XRkpgcG27aUKsKKHvlFJg/s400/pride_and_prejudice_2.jpg" width="400" /></a></div>
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Segunda inspiração que vai receber destaque hoje são as ilustrações. Sou dessas que perde horas em galerias de imagens de ilustradores só pelo prazer de viajar e dar novos significados pra tudo que tá ali disposto. Não lembro quem disse, mas alguém que eu já li, falava que a partir do momento que qualquer trabalho de arte, em qualquer suporte, quando entra em contato com o mundo exterior, deixa de pertencer somente ao artista, e portanto, de ter significado somente para quem faz a arte, pra ganhar um mundo de novos significados que sempre fogem ao controle de quem a criou. Arte compartilhada é arte sem dono, no sentido que ninguém é dono do sentido único, último e definitivo de qualquer peça.</div>
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Daí que já fazem uns três anos que eu descobri a <a href="http://www.lupevision.com/" target="_blank">Lupe</a> uma ilustradora que é sensacional. Tem um portifólio incrível e algumas das séries de ilus dela me servem de inspiração sempre. São desenhos bem maduros que tem um traço único, sempre que vejo o trabalho dela, fico pensando em algo que tá entre a realidade e a fantasia, que podia ter sido imaginado por uma criança, de tão rico que é. Quem curte ilustrações bacanas, não vai perder o clique. </div>
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<a href="http://payload.cargocollective.com/1/4/140150/1864954/4.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="640" src="http://payload.cargocollective.com/1/4/140150/1864954/4.jpg" width="452" /></a></div>
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